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Capítulo 19: God Is Contra Natura

Música Recomendada: Laura's Theme - Craig Armstrong

O fotograma genealógico da curta-metragem comovente, atropelava a vitrina dos sonhos utópicos que pernoitavam no remanso caseiro dos sorrisos eternos. A dualidade da minha alma sensacionista, revisitava o recôndito fraterno da cabana primaveril à beira-mar, naquele alpendre rústico juncado de colmos silvestres domesticados pelo espírito rebelde do meu encantador de cavalos. Os primeiros raios de sol madrugadores serpenteavam pelos seus cabelos encaracolados de mel e afagavam o seu rosto juvenil salpicado de sardas bondosas que iluminavam o seu olhar oceânico imbuído de luz. Rapaz traquina, explorava as interrogações retóricas da sua inocência filosófica, por entre choupos de babel que cheiravam a camélias com o café da manhã e jasmim com as doze badaladas da meia noite. Sorriso rasgado, coração de manteiga, galopava em “braille” pela imponente macieira de “Newton”. Era um regalo observar o Jamie a montar o nosso “lusitano” naquelas tardes amenas de vinil clássico e literatura romanesca. Feroz, compenetrado, testava os limites do seu talento inato como cavaleiro, rédea curta, fôlego exacerbado, “jockey” da cruzada sem cor que lhe deu o título “és um renegado”. Poeta apaixonado, morava no feno dourado da cavalariça mágica, resguardado pelo bafo sereno da mímica selvagem do seu amigo equestre. Não deixava ninguém aproximar-se do seu menino querido, sem oferecer os préstimos das suas pesadas ferraduras com o cumprimento simpático do habitual coice da praxe. Perdia-me na contagem emocional das inúmeras vezes que o ia tapar delicadamente com a manta polar da avó, naquelas alvoradas torrenciais em que mitigava o cansaço, refastelado na crina grisalha do seu confidente telepático. Deliciava-me a espiar secretamente aquele momento sublime por breves instantes, o compasso harmonioso da respiração infantil, as caretas angelicais dos lábios comediantes, a pose fetal do “bambino” mimado pelo cordão umbilical do amor incondicional. Herói do meu duelo de esgrima existencial, na “Broadway” dos humildes, naquele palanque de trapos onde os pais orgulhosos atribuem diariamente o prémio invisível para o seu “underdog” sobredotado. Esquecia-o na discussão histérica das sirenes impulsivas que berravam com as convulsões eléctricas do meu ser reanimado. Lembrava-o na expedição aquática dos glóbulos vermelhos ao mundo exterior, na chicane sinuosa das minhas mãos empastadas de sangue. Perdia-o na sonolência temporária do soro fisiológico induzido, despertado pela rigidez do estetoscópio examinador. Encontrava-o na seringa de adrenalina excitante, nas brumas de um carma subjugado por um “God” que é contra natura.
 
P.S - Dr.Anderson, o paciente está pronto para a intervenção cirúrgica.
 

"Um homem faz o que pode até o seu destino lhe ser revelado".

A Continuar...


Autor Da Imagem: José Paiva Em http://olhares.aeiou.pt/JP8296


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Capítulo 18: O Pecado De Ícaro

Música Recomendada: I´m Sending You Away - M83


Vejo-te Deus:

Errante supremo do casulo ninfeu germinado em luz,
Invólucro úbiquo, túnica puritana do sorriso caloroso que seduz,
Claustro de níquel, clareira interdita no cume do horizonte que levita,
Esfera vulcânica, o nimbo giratório do ilustre clérigo jesuíta...


Sinto-te Deus
:
 


C
arícia afável na brisa foragida da masmorra lívida em ruína,
Incenso adocicado, ermo soturno exilado num cálice de morfina,
Sílaba afectuosa, salmo do gladiador que dormita no sanatório da sorte,
Catarse exorcista, fénix de cera que ressuscita na alcofa certa da morte…


Despeço-me Deus
:


Algema de papel sem cadeado, "rudius" libertino do compromisso assinado,

Toga de amigo, sentença adiada, acólito absolvido do veredicto comprado,

Chaga de tudo, insónia de nada, mandatário semita do mundo acabado,
Ferrete de sangue, sabre empunhado, o guerreiro do inimigo malogrado


"Só quem estiver disposto a morrer por algo será digno de viver"


Autor das imagens: Luís Lobo Henriques Em http://olhares.aeiou.pt/lloboh

 

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Capítulo 17: Damkina 01

Música Recomendada: Mars - Clint Mansell

As faúlhas incandescentes, expelidas abruptamente do motor cálido em ignição, beliscavam vertiginosamente a viseira fumada do meu capacete aeronáutico, desgastado com os clarões de cegueira que sapateavam harmoniosamente com as suas sombras alvoraçadas num efeito luminoso de rara beleza visual. O poliedro diáfano reproduzia o céu circular dos sonhos humanos, salpicados na tela fresca da esperança por um pincel borrado de tinta seca atormentada pelo vaticínio infortunoso do sossego espacial.
O paradoxo cruel do meu senso instintivo palpitava o fastígio da morte velhaca que gatinhava prematuramente no adágio ritmado para o seu encontro pontual. Eu sentia o rasto calculista das migalhas emocionais que iam sendo debicadas na pausa oscilatória da viatura acrobata, conduzida imaculadamente pelos pixeis inteligentes do seu processador quântico monstruoso, patenteado solenemente com a rubrica memorial da falecida companheira do seu inventor “Damkina“. Baptizado com a qualidade mais apreciável da sua alma gémea desaparecida, a “Esposa Fiel“ conservava no íntimo nuclear a curvatura elíptica da volúpia feminina, difundida por um tentáculo electrónico ramificado em milhares de nano chips ultra-velozes que sustentavam a figura virtual do aclamado "software" de navegação, preferencialmente adoptado pela comprovada eficiência e fiabilidade na perenidade matrimonial entre a máquina insensível e o homem emocional. Numa era institucionalmente robotizada pelo “mainstream” do intelecto artificial que desprezou o disco compacto como “mídia” convencional, os eléctrodos tubulares comutados na têmpora neurológica, conectavam-se com a matriz do servidor “on-line” que registava num padrão codificado os dados individuais procedentes da intensa actividade sináptica de cada ciber-navegador ligado à "aldeia global". Imune aos ataques corruptivos dos talentosos piratas contemporâneos, o “mare nostrum socialis” fortificava a segurança da sua “muralha da China” com o betão policial de um agressivo porteiro “firewall” que autenticava criteriosamente o “IP” cerebral do cardume de marinheiros internautas, identificados na rede pública mundial pelo “avatar” digital da sua verdadeira aparência física.
Unos na infusão binária de um programa pré-instruído, as inúmeras imagens residuais dos indivíduos genéricos interagiam intimamente num “lobby“ tridimensional, sistematizado num mercado “origami” de temáticas multi-disciplinares que eram alfândegariamente descarregadas para o ecrã táctil do sistema operativo, em consonância com o fluxo nervoso da vontade interpretada por um roteiro intuitivo, mediador de todas as aplicações requisitadas. O comandante automático sem “brevet” nadava com o pedaço de lata no gueto celestial, deslizando com constância pelo crocito turbulento da saturada cintura de asteróides que encobria o “ovni” destinatário do passeio turístico incógnito. A córnea longínqua revelava o “slide” míope de uma ilha mecânica auscultada na escuridão do escuro por um vestígio familiar replicado miraculosamente no cânone sonoro do "Chronos" ainda vigente. Encurralado na ganância bondosa do “Alpha e Omega” semi-delinquente, aquele rochedo usurpador deliberadamente increpado, perfurou o casco vitríolo do aparelho orbital crivado de feridas materiais que gratinavam no corredor magnético do palácio estrangeiro, irreconhecido no mapa cartográfico planetário.

P.S - Adeus, Sr.Haiden!

A Continuar...

Autor Da Imagem: Paulo Madeira Em http://paulomadeira.net


Última Transmissão Humana
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Capítulo 16: A Equação De Nosferatu

Música Recomendada: Matrix Of Leadership - Steve Jablonsky

A humanidade amarrada numa camisa de forças ripostava na hora certa da injecção letal com o braço de ferro em carne viva, no epíteto cataclísmico do planeta azul quase desaparecido nas entranhas viscosas do silêncio espacial. O convénio de Judas exaltava o fanatismo dos seus apóstolos recém-associados com a água benta lambida das sete chagas de Cristo, agrupados em colunas robustas meticulosamente organizadas pelo sinal semiótico do seu código linguístico selvagem. Na dianteira dos meus olhos exorcizados de terror, os carniceiros delatores delineavam o plano geoestratégico belicista, chicoteando-se mutuamente com palmadas de regozijo narcisista, aparelhados com o cilício farpado, símbolo carpidor do massacre humano inevitável no certame definitivo de todas as decisões.
A sua compleição física vigorosa impunha respeito, o crânio felídeo envolvido num crustáceo excrementoso de borbulhas montanhosas, repudiava a sensibilidade de qualquer íris vulgar num tumulto lacrimoso, agravado pelo colosso torácico, esguio e espadaúdo que definhava o meu músculo cardíaco melindrado de agonia. Os membros superiores e inferiores eram extensos e sinuosos, revestidos por uma película pegajosa que albergava uma pelagem eriçante e volumosa numa miscelânea alienígena autenticada com a insígnia flamejante do Minotauro infernal.
A falange cascavel aumentava a dose do cerco venenoso, mantendo em rédea curta o batalhão totalmente desfalcado das forças especiais de salvamento que flutuavam nas suas sobrancelhas pitorescas com os canudos cerrados na têmpora crucificada de infra-vermelhos apontados para disparar. O hino das lamentações bradava ao cosmos a sobrevivência da espécie racional hedonista que contrastava com o grimpar volumptuoso dos bicharocos doentios, encantados com a ideia romântica de passearem à beira-mar por um jardim melancólico ornamentado de caveiras humanas.
No instante oportuno em que pressionava a alavanca fatídica para activar o gancho de aterragem das naves espaciais, o sibilo bárbaro desencadeia uma avalanche torrencial de ataques aracnídeos infestados de ira numa teia predadora que gradeava irremediavelmente o último reduto de homens bravos em desvantagem numérica, atordoados por uma defesa improvisada, fazendo das tripas coração, com o reduzido poder de fogo ainda disponível ao seu alcance. Os canhões de plasma, equipados solitariamente em cada veículo voador eram impotentes para travar o assédio compulsivo das viúvas negras apaixonadas que eram cuspidas num embrulho alimentar venoso proveniente das gargantas gástricas do inimigo público número um, como um beijo coercivo no código genético sapiente, adulterado e convertido para o clube dos poetas mortos. Mulheres grávidas separadas dos seus maridos, crianças órfãs perdidas dos seus pais adoptivos, idosos arrancados das camas dos seus lares provisórios, vítimas do dogmatismo preferencial do protocolo de evacuação, choravam o memento da amnistia divina, como um agregado familiar unido de mãos entrelaçadas para sempre, com a memória inesquecível do festival olímpico de arremessos ensurdecedor.
As maquinetas aéreas sobrelotadas despenhavam-se descontroladamente a pique, engolidas pelos monstros sanguinários que cortavam o metal simetricamente, separando o cockpit sem condutor da cauda aviónica sem propulsor. Por breves instantes, permaneci colado na víscera das minhas emoções imbuídas de uma raiva gradualmente galopante que incitava a necessidade categórica de agir. Comecei a descarregar como um louco em todas as direcções num movimento de trezentos e sessenta graus, rajadas de tiros protoplasmáticos e granadas criogénicas que estoiravam com os miolos dos invasores pelos recantos periféricos do complexo científico, no comunicado exuberante de desforra em nome da minha mulher e filho. Rastejei até aos escombros cobertos de corpos quase vivos que ainda ardiam no meio das chamas dos pássaros caídos, na diligência esforçada de encontrar Amanda e Jamie. A retina processava vertiginosamente as parecenças congénitas numa dualidade emocional de ansiedade e receio atormentada pela dúvida existencial de indícios homogéneos no naipe craniano desfigurado na fervura efervescente do caldo sebácico ebulidor.
Não existiam sobreviventes, a totalidade dos ocupantes de cada transporte acabaria por falecer instantaneamente no fluído vertido dos seus graves ferimentos, envolvidos na teia suicida dos pilotos extremistas que faziam explodir os aviões desviados na direcção dos que tentavam escapar a todo o custo, num cogumelo combustivo expandido pelo Universo. Escondido invisivelmente no refúgio biblíco daquela sucata de gente, murmurei aos deuses a agonia de viver violentado a observar os escravos diabólicos com os manifestos de voo a conferir o somatório dos finados, completando a sequência Fibonacci do holocausto mundial.
Saboreei o revólver na língua insípida e tesa, desejosa de lamber o gatilho aliciado por um prazer único terminativo, mas uma voz alegórica de esperança matutava com persistência os apelidos dos meus dois tesouros mais valiosos, relevando as suas letras brilhantes na maldita tira de papel processado a computador que sorria para mim com a informação detalhada de cada passageiro disposto por ordem alfabética.
Aguardei pacientemente pelo momento oportuno e quando as criaturas de ébano viraram costas, ataquei o confidente do mencionado documento escrito, paralisando-o com um choque encefálico de quinhentos volts induzido silenciosamente pela pistola Taser. Discretamente, sem chamar a atenção dos idiotas descuidados, resguardei-me numa sombra estrutural e percorri apressadamente a lista de palavras relacionadas com alguém, num suspiro profundo de alívio abraçado pelo sentimento esquecido do abandono eremita numa vida insignificante privada de sentido.
Estava na hora de fugir daquele hospício mental com a motivação nostálgica de regressar finalmente a casa e abraçar calorosamente a minha esposa com o seu avental colorido a cozinhar a minha refeição preferida, auxiliada pelo seu ajudante amador, empenhado em deixar o seu toque pessoal no petisco delicioso. Sem deixar qualquer rasto suspeito, esgueirei-me habilmente por uma passagem secreta subterrânea que dava acesso à “Sala das Cápsulas de Emergência” e ao deparar-me com uma cortina de aço composta por dois bisontes que vigiavam a entrada, assobiei sensualmente no engodo de ludibriar a sua fraca inteligência cognitiva e no instante da sua aproximação à parede que ocultava o meu esqueleto por inteiro, pulverizei-os com múltiplos abalos eléctricos embalados num conto infantil de boa noite. Para mal dos meus pecados redimidos, um dos lobos noctívagos conseguiu ainda emitir a sonata musical do intruso infiltrado antes de padecer, atraindo o exército de Nosferatu ao local do crime reincidente. Barriquei as portadas com um machado excessivo encontrado no escaparate para incêndios e ejectei-me gloriosamente na cápsula de fuga, dizendo adeus aos vampiros frustrados que batiam amarguradamente com as dentuças enjoadas no portão encravado.

P.S – Sentia-me um solitário perdido na imensidão do espaço, enclausurado no habitáculo do foguetão sustentado por um tanque de combustível quase na reserva e um sinal luminoso intermitente que não cessava de piscar no radar embutido na consola de navegação.
As minhas faculdades mentais encontravam-se diminuídas e os resquícios de gasolina só permitiam viajar para o local desconhecido, identificado pelo rádio telemétrico.

Status
: Triangulação De Novas Coordenadas...Ok

A Continuar...

Autor Da Imagem: Paulo Madeira Em http://paulomadeira.net

Dedico este texto a uma pessoa muito especial, que roubou o meu coração e pagou o resgate, com muito amor, apoio e admiração, por mim, por tudo aquilo que sou, por tudo aquilo que faço. Obrigado Carla, Love Ya...


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Capítulo 15: Ilusionista Da Morte

Música Recomendada: Be Wild - M83

Sacrilégio satírico do homem da barca invisível que cobre a ninharia da vida com o véu acetinado tingido em cravos de sangue, no presídio da identidade pessoal inscrita no reverso da moeda do destino atiçada ao ar aleatoriamente sem nexo…

Alquimista da ode eufemista canonizada na verdade da mentira dissimulada, que deambula vingativamente pelo calvário superficial do elmo de aço psicológico entranhado no âmago cerebral indestrutível…

Ornato violento de expiação carnal mascarada no cepticismo da aparência omnipotente, mergulhada na fonte eutrófica da prognose existencial imbuída na psicomansia do sepulcro terrestre…

Feiticeiro dramaturgo da odisseia gestual teatralizada no refúgio invisível da maquilhagem comovente, representada no bailado hermetista do actor teosófico…


Coreografia artística do ilusionista da morte encenada com a auréola de espinhos envenenados em ódio, engenhosamente camuflada no marasmo do mártir sobrevivente do seu homicídio individual…

Teatralidade e
Ilusão são poderosos agentes
ao serviço de um sujeito
que
precisa de ser mais
do que um simples homem


na mente do seu opositor



Autor da Imagem: Paulo César Em http://paulocesar.eu

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Capítulo 14: Gun-Fu

Música Recomendada: Castor - Daft Punk

De tenra idade, renascidos da forja humana com a ambição motivadora potenciada pela inocência da sua curiosidade filosófica, iniciavam a sua preparação física e aprendizagem intelectual no “Agoge”,um centro de formação militar que visava treinar intensivamente os jovens soldados amadores numa arte marcial milenar, o "Gun-Fu", a fusão perfeita entre a perícia de disparo com uma arma de fogo e a técnica corporal de auto-defesa pessoal, apaixonadamente embrenhadas numa finalidade comum, proteger e eliminar a todo o custo.
O antigo entrelaçava-se fielmente com o moderno numa redoma sensível de conhecimentos teórico-práticos, alheios ao anacronismo da formulação e reformulação constante, ao longo de décadas, do papiro revelador dos princípios fundamentais de combate, rabiscados com o objectivo precípuo de maximizar eficientemente a capacidade de tiro assente na predição intuitiva da posição angular de cada invasor hostilizante.
Possibilitando um acréscimo percentual de sucesso na ordem dos cento e vinte por cento comparativamente a um simples ataque convencional, este poderoso instrumento secreto só estava ao alcance das mentes mais dotadas reflexivamente, mutuamente acompanhadas por atributos físico-atléticos minuciosamente seleccionados devido à demanda dos elevados níveis de concentração psicológica e exaustiva mobilidade motora na execução imaculada de um gesto sangrento desferido para matar.
O espaço circundante era memorizado visualmente num milésimo de segundo, na fotografia de um mapa mental que continha a posição exacta de cada inimigo num plano tridimensional, conferindo ao autor da sua exímia compreensão, um único golpe certeiro capaz de eliminar trinta alvos simultaneamente como um carrasco profissional coleccionar de cabeças numéricas. Improvisação e adaptação eram as palavras de ordem, num mundo ainda regido por leis naturais que podiam ser contornadas pela criatividade inesperada da inovação espontânea, o elemento surpresa como afirmava o meu mestre. A interiorização mecanizada deste estilo materializava-se em torno de um círculo idealizável possuidor de dois graus distintos, o primeiro correspondia ao treino corpo-a-corpo executado e aperfeiçoado no dojo sob o tatame japonês, o segundo reconduzia o estudante para um ambiente virtual que simulava todos os cenários possíveis e imaginários de abordagem ofensiva, sem esquecer o confronto agrupado ou individual que pudesse decorrer das inúmeras circunstâncias apresentadas em tempo real. Ângulos infinitos de trajectórias aleatórias eram cuidadosamente calculados e analisados analiticamente por um super-computador holográfico, numa representação estatística dos movimentos tácticos e geométricos de cada agressor no momento anterior e posterior de premir o gatilho, fintando evasivamente todo e qualquer dano colateral que pudesse advir desse penoso e intencional acto violento.
Vinte anos, era o período cronológico que separava o miúdo delgado e inútil do adulto musculado e ágil ao serviço da infantaria de elite, os guerreiros virtuais recém-graduados com prestígio e excelência que transportavam a insígnia invisível da virgindade empírica no campo de batalha. Assassinavam em nome do "Pai", líder dos seguidores, chefe dos governadores, toldados por um bem superior humanitário de igualdade e liberdade confundível com um gesto de agradecimento egoísta de guarida das suas vidas repletas de insignificância à nascença num berço de palha. Infelizmente, eu era um deles, revoltei-me fortemente contra o sistema opressor e desertei cobardemente durante toda a minha vida. As noções extremamente avançadas de informática escancararam-me as portas da absolvição sofrida e demorada, ao ludibriar o pacemaker de localização implantado nas entranhas do meu músculo cardíaco como uma reversível doença terminal. Forçado a mudar de identidade, refugiei-me na penúria da minha sombra fugitiva, escondido atrás de uma secretária fria e atulhada de manuais de linguagem pascal, uma penitência isolada atenuada apenas pela aparência de um mero técnico de programação que agora era procurado para ser exterminado pelo mesmo governo responsável pela sua própria invenção...

"A única coisa mais poderosa que o sistema, é o homem que o conseguir derrubar"

A Continuar...

Autor Da Imagem: Nuno Ramos Em http://olhares.com/quartzob

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